A importância da integração do trabalho da Escola Sabatina e dos Pequenos Grupos
Antes de ter um nome ou uma organização formal, o movimento adventista já tinha uma escola: a Escola Sabatina.1 Desde seus primórdios, os adventistas sabatistas se dedicaram ao estudo profundo da Bíblia. Como coração da igreja, a Escola Sabatina nasceu para levar o sangue, isto é, as doutrinas bíblicas, a todas as partes do organismo vivo e vibrante chamado Igreja Adventista do Sétimo Dia.
No contexto das limitações da pandemia da Covid-19, as congregações foram motivadas a buscar meios de superar esses desafios. Assim, aprenderam a fazer cultos fora do templo, realizar comissões e reuniões por videoconferência, ser igreja sem prédios e fazer evangelismo no ambiente virtual. Nunca se falou tanto em oração e reavivamento, nunca os membros fizeram tantas vigílias espontâneas nem se preocuparam tanto com o irmão, vizinho ou amigo como atualmente. Assim, a formação de grupos de relacionamento on-line permitiu que amigos e intercessores encontrassem nesses grupos espontâneos o carinho e a atenção que costumavam receber na igreja.
Isso, porém, foi contingencial. No processo gradativo de retorno à normalidade, algumas facilidades descobertas no período da pandemia permanecerão, mas, de modo geral, a dinâmica congregacional voltará a ser a mesma. Por um lado, isso é bom, pois resgatará o senso de comunidade presencial, tão importante para a saúde espiritual e emocional dos membros. Por outro, isso traz preocupações, porque algumas coisas não estavam bem antes da pandemia como, por exemplo, a presença na Escola Sabatina e a formação de pequenos grupos. O propósito deste texto é refletir brevemente a respeito dessas estruturas e sobre como a integração entre elas pode potencializar o cumprimento da missão da igreja.
Propósito da Escola Sabatina
Os grupos pequenos informais que se reuniam nos lares foram a marca do adventismo em seu início. Esse modelo de organização ainda é praticado em diferentes atividades congregacionais, incluindo a Escola Sabatina. De acordo com o Manual da Igreja, “a Escola Sabatina, o principal programa educacional da igreja, tem quatro objetivos: estudo da Bíblia, confraternização, testemunho e ênfase na missão mundial”.2 Infelizmente, esses quatro pilares têm alcançado desempenho abaixo do esperado. O cartão de registro da Escola Sabatina é um primor de organização, mas o relatório gerado a partir dele é motivo de preocupação.
Essa constatação não é inédita. Em 1891, Ellen White escreveu:
“Nossas Escolas Sabatinas não são o que o Senhor deseja que sejam, pois ainda se confia demais nas formas e no equipamento, enquanto o vivificante poder de Deus não se manifesta na conversão de pessoas por quem Cristo morreu. Esse estado de coisas deve ser modificado, para que nossas Escolas Sabatinas cumpram o propósito pelo qual existem.”
Conselhos Sobre a Escola Sabatina (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2021), p. 93 [156, 157].)
Por que nossas Escolas Sabatinas “não são o que o Senhor deseja”? Talvez seja porque elas não estejam cumprindo seu papel missionário. De forma geral, as classes não funcionam como unidades evangelizadoras ou como “grupos para o serviço” nem se reúnem além de seu programa de 80 minutos para tratar de uma pauta evangelística, beneficente ou social fora da igreja.
Se não houver um retorno intencional aos objetivos iniciais da Escola Sabatina, as classes continuarão como pequenos blocos de irmãos que se encontram eventualmente dentro da igreja em um programa sabático, de acordo com suas preferências. Podem até se reunir socialmente em outro local ou momento, mas com poucas chances de cumprir o propósito pelo qual existem.
Durante a pandemia, muitos membros sentiram falta das classes de Escola Sabatina. Com o retorno gradativo das atividades, nota-se que em muitos lugares o modelo de lição geral está prevalecendo. Contudo, esse não é o modelo ideal de funcionamento.3 Então, como reorganizar as classes de Escola Sabatina em unidades de ação, como recomendado? Como fazer para despertar o senso de missão e torná-lo maior que as conveniências pessoais? O momento é propício para reformar o funcionamento da Escola Sabatina, tornando-a um lugar de aprendizagem, interação, testemunho e missão.
Papel dos pequenos grupos
O fortalecimento da Escola Sabatina não deveria ofuscar o papel escatológico dos grupos pequenos. Apesar de possíveis erros terem ocorrido no passado recente quanto à sua implantação, desenvolvimento e manutenção, os pequenos grupos têm fundamentação bíblica, teológica e histórica.
Ellen White escreveu:
“Haja em toda igreja grupos bem organizados de obreiros para trabalhar nas vizinhanças dessa igreja.”
– Serviço Cristão (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2015), p. 72.
“Se há na igreja grande número de membros, convém que se organizem em pequenos grupos a fim de trabalhar não somente pelos membros da própria igreja, mas também pelos incrédulos.”
Testemunhos Para a Igreja (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2021), v. 7, p. 21 [22].
“Formemos em nossas igrejas grupos para o serviço. Unam-se vários membros para trabalhar como pescadores de homens.”
Testemunhos Para a Igreja, v. 7, p. 21.
Geralmente, os pequenos grupos se reúnem uma vez por semana e são formados a partir de relações de afinidade entre seus membros. Outro ponto que se destaca é o fato de que seus participantes, na maioria das vezes, consideram a proximidade geográfica para o estabelecimento do pequeno grupo, algo que facilita na avaliação das possibilidades e dificuldades de sua realização. Organizados dessa maneira, os pequenos grupos têm “o propósito de evangelizar, fazer comunidade e discipular com o alvo de multiplicação”,4 funcionando “como um sistema vivo, a partir de uma célula com capacidade de auto-reprodução e multiplicação”.5
Pelo fato de a Escola Sabatina, em seu modelo atual, não vivenciar “as características de comunidade” do Novo Testamento, e “estar impedida pela sua limitação de tempo de uma hora [e vinte minutos], pelo seu propósito restrito de estudo bíblico cognitivo e pelo local de reunião”,6 é preciso pensar na melhor maneira de integrar o que ocorre dentro da igreja àquilo que acontece fora.
Nesse sentido, se funcionarem de maneira ideal, os pequenos grupos estarão prontos para cumprir o papel extraclasse da Escola Sabatina. Além disso, Ellen White não viu a igreja no final dos tempos reunida em grandes congregações, mas em grupos pequenos.7
Unidades geográficas
Frequentemente, as pessoas escolhem por afinidade sua classe de Escola Sabatina. Isso, porém, não tem sido o bastante para motivar e manter reuniões propositivas fora da igreja, num encontro semanal, à semelhança dos pequenos grupos.
Quando, porém, elas são convidadas ou orientadas a se reunir fora do ambiente da igreja, como em um pequeno grupo, alguns cuidados adicionais e específicos precisam ser implementados.
A transição das unidades de ação para pequenos grupos não é automática nem pode ser imediata, porque elas geralmente não estão prontas para essa mudança. O que fazer para que esse processo seja bem-sucedido e maximize os esforços missionários da igreja? A seguir sugiro seis passos.
1) Revitalizar a Escola Sabatina
É preciso elevar os índices de frequência e estudo diário, fortalecer a classe dos professores e oferecer métodos variados de estudo da Lição.
2) Organizar os membros em unidades geográficas
É preciso motivar os membros que morem próximos uns dos outros a se organizarem em grupos.
3) Estruturar as unidades de ação a partir das unidades geográficas
Esse passo é importante para que a transição de unidade de ação para pequeno grupo seja suave e efetiva, pois as pessoas têm dificuldade para frequentar reuniões regulares em locais distantes de sua casa.
4) Motivar as classes a se reunirem fora da Escola Sabatina com propósitos missionários
Organizadas por critério geográfico, as unidades de ação devem se reunir semanalmente em algum lugar, geralmente em uma casa, para atender os irmãos da igreja e cumprir os objetivos evangelísticos propostos para ela.
5) Promover reuniões de reavivamento nos grupos pequenos
As unidades de ação não devem iniciar as reuniões nas casas como uma classe bíblica ou reunião de estudo bíblico. A preocupação inicial deve ser com a maior necessidade da igreja, a busca pelo reavivamento;8 pelo poder do Espírito Santo, conforme Cristo recomendou à igreja apostólica (At 1:8).
6) Escolher bem o material de estudo
O tipo de material utilizado nas reuniões é importantíssimo para ajudar as pessoas a aceitar o projeto e aderir a ele.
Mesmo que os membros estejam motivados com a proposta, esses preparativos recomendados precisam ser aplicados.9 Lembre-se de que uma planta, quando trocada de recipiente, sente a mudança, e isso também ocorre no processo de transição da unidade de ação da igreja para as casas. O retorno pós-pandemia é uma excelente oportunidade para organizar a igreja em unidades geográficas, facilitando a formação elaborada e festiva das novas unidades de ação.
Esse é um passo importante para integrar os encontros da unidade de ação e do pequeno grupo, aproveitando as duas estruturas e fortalecendo seus propósitos espirituais e missionários. A unidade geográfica reunindo-se na nave da igreja, aos sábados, como unidade de ação e, nas casas, em outro dia da semana, como pequeno grupo, é um sonho da igreja. Não desista de torná-lo realidade!
Referências
1 Manual da Escola Sabatina (Santo André, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1982), p. 11.
2 Manual da Igreja (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2016), p. 99.
3 Manual da Igreja, p. 99-102, 124.
4 Umberto Moura, “Sucesso Garantido”, Ministério, maio/junho de 1999, p. 24.
5 Umberto Moura, Pequenos Grupos: Uma Fundamentação Bíblica, Teológica e Histórica (edição do autor, 2013), p. 20.
6 William A. Beckham, A Segunda Reforma: A Igreja do Novo Testamento no Século XXI (Curitiba, PR: Ministério Igreja em Células, 2007), p. 79.
7 Ellen G. White, Primeiros Escritos (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2007), p. 282; Ellen G. White, Eventos Finais (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1997), p. 224.
8 Ellen G. White, Mensagens Escolhidas (Santo André, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1966), v. 1, p. 121.
9 Moura, Pequenos Grupos, p. 133, 134.
Artigo publicado pela Revista Ministério de abr/mar de 2022.